sábado, 10 de janeiro de 2015
Lobão: explicando porque suas músicas não tocam nas rádios
Em uma entrevista concedida para a revista Veja em 2013, o músico Lobão deu a sua explicação sobre suas músicas não tocarem nas rádios. confira.
Veja: Por que há mais de vinte anos o senhor não emplaca um sucesso nas rádios?
Lobão: Porque eu me rebelei contra o jabá. Para agradar aos radialistas e colocar uma música no ar, as gravadoras sempre fizeram de tudo e mais um pouco: distribuem passagem para o exterior, carro zero, promovem até surubas, daquelas em que o cara come sushi em cima do corpo de uma mulher nua. Eu fiz parte disso. A única música minha que estourou espontaneamente foi Me Chama. Decidi romper com esse sistema, fui para o underground e, em 1999, vendi 100.000 discos em bancas de revista. E continuei produzindo coisas novas, não fiquei reciclando o que fazia nos anos 80, como tantos cadáveres insepultos que circulam por aí.
Veja: O Caetano Veloso entra nessa categoria?
Lobão: Ele até é uma pessoa querida, mas há muita tempo o que faz deixou de ser relevante. Acho até engraçado o jeito de o Caetano tocar rock. Ele toca com o dedinho levantado, como se estivesse tomando um cafezinho. Para falar a verdade, não acho o trabalho dele substancial desde o disco Muito, de 1978, lá se vão mais de trinta anos. O Gil também, desde a época do Refavela, do Realce, parou no tempo.
Veja: E o Chico Buarque?
Lobão: Desse eu nunca gostei mesmo. Nada pessoal, mas é que ele é daqueles que têm inveja da pobreza. A prosódia dele me dá urticária. Nunca foi sinônimo de subversão. O Chico era o garoto que toda mãe queria ver casado com a filha. Minha mãe adorava o (ex-presidente da República Emílio Garrastazu) Médici, de olhos azuis, e o Chico Buarque, de olhos verdes. Ela não sabia direito onde terminava um e começava o outro.